Curso de Serviço Social da Unifesp-BS se manifesta sobre o cerceamento discriminatório

O curso de Serviço Social da UNIFESP, campus Baixada Santista, em consonância com seu projeto político-pedagógico e com os princípios que norteiam a profissão, vem se colocando no debate sobre o racismo nos últimos anos, trazendo reflexões e socializando análises e estratégias de enfrentamento às formas como este se apresenta. Implícita ou explicitamente, identificam-se manifestações que revelam o caráter institucionalizado das relações raciais no Brasil, presentes nos massacres de jovens negra(o)s das periferias, na ausência de acesso à justiça, à educação, à saúde, à moradia, ao mercado de trabalho, dentre outras.


O episódio ocorrido em uma banca de concurso público do próprio curso (Edital 675/2016, Área de Ciências Sociais Aplicadas) e seus desdobramentos, nos interrogaram sobre a reprodução e a naturalização de comportamentos e atitudes discriminatórias dentro da universidade, como um reflexo das relações cotidianas de nossa sociedade (racista), que funcionam independentemente de nossa consciência. Reconhecer o “mito da democracia racial” nos leva a considerar que as instituições, a universidade inclusa, reproduzem formas de cerceamento discriminatório, sustentadas nas determinações históricas, econômicas e políticas que aprofundam a violência e a discriminação sofrida pela população negra.

Longas reuniões e intensos debates entre professores, técnicos e estudantes foram realizados com vistas a compreender este processo. Apesar do discurso que condena o preconceito e a discriminação, suas manifestações, ainda que não intencionais, se reproduzem nos valores e ideologias arraigados nas relações sociais (raciais) e nos interpelam a mudanças e transformações.

Assim, o curso de Serviço Social reconhece o cerceamento discriminatório de caráter étnico-racial no ambiente universitário, o que coloca outros desafios políticos ao seu corpo docente, discente e técnico, na construção de estratégias coletivas na defesa dos direitos historicamente violados de negra(o)s. A direção desse debate está expressa na “defesa intransigente dos direitos humanos…, no empenho na eliminação de todas as formas de preconceito…, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças, no exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a nem discriminar, por questões de… etnia” (CFESS, 2012).

Portanto, não nos furtaremos ao debate e ao enfrentamento do racismo, o que é, aliás, por princípio, uma questão colocada a todo(a)s que lutam por uma sociedade igualitária livre de opressão e exploração. Nossa responsabilidade acadêmica e política exige que debatamos cotidianamente os nexos existentes com a questão social e suas múltiplas expressões. A violação dos direitos decorrente da condição racial dos sujeitos se soma à desigualdade social na sociabilidade do capital e na omissão do Estado brasileiro, a serviço da opressão e da exploração.

Cicatrizar feridas abertas desde a escravização não é tarefa simples e a persistência do racismo também revela que nunca foi uma questão de tempo. Este episódio e suas manifestações nos mostram que enfrentar o racismo é medida que se impõe com a máxima urgência a toda(o)s nós, em diálogo com os movimentos, grupos e entidades que defendem a eliminação de toda forma de racismo e preconceito.

Santos, 20 de setembro de 2017.

Curso de Serviço Social da UNIFESP, campus Baixada Santista