Campanha Unifesp em defesa da vida e da sociedade

A Universidade na busca por entender o novo mundo e lutar contra a catástrofe em curso

Mesmo que, imediatamente e corretamente, tivemos que suspender nossas aulas e demais eventos presenciais nesses tempos, a duríssima e inusitada conjuntura atual, marcada pela pandemia global do COVID-19 e pela postura absolutamente criminosa do governo Bolsonaro, reforça sobremaneira a necessidade de amplas ações coletivas. Nos explicamos. Se, de um lado, é evidente que agora é necessário reforçar o isolamento físico das pessoas, de outro lado, é justamente a ameaça de catástrofe social em curso que escancara a falácia tão decantada nos últimos tempos de que é possível, de forma individualizada e atomizada, lidar com os problemas essenciais de nossa sociedade. De forma abrupta, o Coronavírus mostra a todos nós o profundo grau de interdependência de nossas ações e formas de vida. Mais ainda, temos o fato de que epidemias e patogenias tendam a se multiplicar dada a relação predatória e impensada do homem com a natureza, fato este que por sua vez traz à tona a constatação de que uma sociedade governada pela lógica da concorrência acima de tudo, da produção pela produção, da eficiência pela eficiência, da valorização monetária como fim em si é uma sociedade cada vez mais afeita a desastres incontroláveis. Sobretudo num país como o nosso, com todas as profundas mazelas e desigualdades que bem conhecemos.

Ora, é justamente aqui que entra o papel crucial da Universidade Pública. O fato de estarmos em quarentena não anula o fato de que a Universidade é um dos raros espaços ainda coletivos de ação e reflexão na sociedade e que, portanto, podemos através dela agir coletivamente e superar o isolamento físico a que fomos obrigados pelas circunstâncias. Uma situação nova e extraordinária demanda formas de ação também elas novas e extraordinárias. E é por isso que a Adunifesp propõe para toda a nossa comunidade a organização e realização de uma ampla campanha UNIFESP EM DEFESA DA VIDA E DA SOCIEDADE. Tal campanha poderia mobilizar todos os cursos e setores da Unifesp, de acordo com as possibilidades de cada um e, obviamente, seguindo as medidas preventivas que a situação exige, tornando a extensão universitária o foco central de nossas ações nesse período.

Pensamos que podemos atuar em diferentes eixos, e aqui exemplificamos alguns deles para abrir o debate: SOLIDARIEDADE: impulsionar diversas ações concretas de auxílio material para comunidades vulneráveis, criar redes de apoio na Universidade que busquem auxiliar a população diante das consequências tanto sanitárias como sociais da atual situação. INFORMAÇÃO: multiplicar iniciativas que visem levar informações concernentes a todas as dimensões da nova situação para a população através de textos, vídeos, áudios, palestras online, mobilizando alunos, TAE`s e professores.

Por fim, mas não menos importante, um terceiro eixo da campanha seria intitulado DEBATES e REFLEXÃO. E aqui é importante uma breve argumentação. A luta contra a catástrofe social em curso vai muito além dos efeitos imediatos da pandemia em si. É nítido o fato de que vivemos uma ruptura histórica e que entramos numa nova situação marcada por incertezas que exigem pensarmos e repensarmos a sociedade em todas as suas dimensões. E é justamente aqui que a Universidade deve ter o papel decisivo de criar neste período, a partir dos meios adequados para a atual situação, espaços de debate sobre as questões que se colocam para o Brasil e o Mundo, espaços estes abertos a todos e todas. A própria ideia de autonomia universitária hoje se confunde com a necessidade imperiosa de criarmos hoje e agora espaços livres de reflexão para que a sociedade como um todo possa pensar em alternativas contra o colapso generalizado e em prol de uma vida melhor para todos. Diante da calamidade social instalada, todos os discursos que temos ouvido nos últimos tempos contra a atividade intelectual, assim como todos os ataques contra a Universidade Pública e sua autonomia, tornam-se ainda mais mesquinhos e absurdos. A crise demonstra de forma ainda mais profunda a irresponsabilidade de um governo federal que quer cortar recursos e salários da comunidade científico-acadêmica que tanto pode contribuir na luta contra a pandemia. Assim como a crise que vivemos hoje evidencia de forma inapelável que uma sociedade que é incapaz de discutir de forma crítica os seus próprios rumos só pode ser uma sociedade cada vez mais doente e, portanto, uma sociedade totalmente incapaz de pensar alternativas ao que aí está. Não por acaso, aqueles que querem uma Universidade precarizada e sem espaços de pensamento são os mesmos que estão em Brasília colocando o pé no acelerador da barbárie em curso.

Em síntese, é com o espírito de transformar neste momento a Unifesp numa enorme rede de solidariedade, informação, debates e reflexão que nos dirigimos para toda a comunidade universitária para que possamos discutir e implementar a campanha apresentada neste texto. Deixamos a seguir, alguns eixos como sugestão para orientar a campanha proposta: 1) Saúde pública; 2) Economia; 3) Políticas públicas; 4) Formação científica interdisciplinar; 5) Solidariedade e cooperação; 6) Meio ambiente; 7) Humanidades diante da pandemia;8) Acolhimento e saúde mental; 9) Lazer e cultura; 10) Saúde e bem-estar

DIRETORIA DA ADUNIFESP REUNIDA EM 27/3/2020