A Associação dos Docentes da Unifesp (Adunifesp-SSind) vem a público expressar sua indignação e repúdio às recentes declarações do governo e especialmente do Ministro da Educação sobre a importância das Ciências Humanas no ensino superior, nas áreas citadas de Filosofia e Sociologia, assim como aos ataques à autonomia universitária e à liberdade de cátedra, incentivando intimidação e censura dentro das salas de aula.
O discurso de “descentralizar o investimento em faculdades de filosofia e sociologia” e “focar em áreas que geram retorno imediato” como solução para crise de empregos ou suposta melhoria da educação é uma grande falácia e deve ser contestada. A formação universitária em Filosofia e Sociologia é fundamental para desenvolvimento do pensamento crítico, autônomo e cidadão – nas sociedades contemporâneas há uma série de questões sociais que dependem da reflexão dos profissionais das ciências humanas como desigualdades, educação, violência, questões étnico-raciais e de gênero, entre tantas outras relevantes para a vida dos cidadãos. Condições previstas pela nossa Constituição, que devem ser incentivadas e ampliadas, não reduzidas. Somente com essas condições satisfeitas é que os estudantes seguem melhores preparados para o mercado de trabalho e para a vida.
Em termos de educação e formação o “retorno imediato” não é um critério, é uma baliza exclusiva do mercado e isso o governo esconde sob uma crítica rasa às Humanidades. Com a redução drástica dos investimentos para toda a educação superior pública e especialmente para a área das Humanidades o governo acaba com as condições mínimas de formação independente e cidadã dos jovens e adultos, e passa à criação de um amplo exército de reserva para o mercado, trabalhadores sem escolha senão entre o desemprego ou empregos completamente precários. Somos mais do que isso, exigimos mais do que isso para nossos estudantes e para população!
Todas as áreas da educação devem ter recursos suficientes para o seu desenvolvimento, somente assim os estudantes podem ter autonomia para escolher como, onde e para que se formar. Se deixarmos o governo orientar os investimentos públicos em acordo com os interesses do mercado, todos nós perdemos em condições para o ensino-aprendizagem, em diversidade de escolha e qualidade de formação.
Não satisfeitos com o desmonte da educação pública, o governo ainda incentiva a intimidação de professores nas salas de aula, tanto no ensino básico, quanto superior. Presidente Bolsonaro divulgou, no dia 28 de abril de 2019, vídeo de estudante filmando professora com o comentário “Professor tem que ensinar e não doutrinar”. E o Ministro da Educação Abraham Weintraub reforçou a intimidação com o comentário de que os estudantes “tem o direito de filmar”. O projeto Escola Sem Partido já foi desmascarado, não se defende a educação com censura a determinados temas e abordagens, todo e qualquer assunto deve ser tratado em sala de aula, aberto ao diálogo. Não se trata de doutrinação mas de incentivo à postura crítica e ao debate de ideias. Não se trata de direito de filmar, mas de violência contra o professor e professora, interrompendo o processo de ensino-aprendizagem e encerrando o diálogo.
Não vamos tolerar qualquer censura e intimidação! A educação depende da liberdade de cátedra, da liberdade de expressão, das condições para que o diálogo entre estudantes e professores aconteça, para que o processo de ensino-aprendizagem se traduza em formação, e que a formação garanta melhor acesso ao mercado de trabalho. E sob o incentivo institucional de violência contra os professores e professoras essas condições não existem e todo o processo educacional encontra-se ameaçado.
O Ministro da Educação, Abraham Weintraub como docente da Unifesp deveria ter clareza sobre esses básicos princípios, nesse sentido sua responsabilidade torna-se ampliada, assim como nosso papel de crítica e defesa da educação e da categoria docente! As declarações do ministro são inadmissíveis, incentivar a intimidação e alimentar uma lógica de perseguição entre estudantes e professores é uma ofensa ao que representa a universidade pública no processo educacional. Suas declarações não nos representam enquanto docentes da Unifesp, pelo contrário, violam todos os princípios de atuação da universidade pública junto à população, de compromisso com o diálogo, diversidade, e formação de qualidade.
Como Adunifesp-SSind defenderemos todos os professores e professoras ameaçados, tomaremos medidas jurídicas e políticas cabíveis contra essa política de intimidação. Não fiquem em silêncio! Não estão sozinhos ou sozinhas! Juntos temos força! Procure a Adunifesp-SSind, sabemos como ajudar!