Entidades participarão criticamente de conferência sobre futuro da Unifesp

O Conselho de Entidades publicou uma carta aberta à Comunidade Unifesp nesta sexta-feira, 30 de março, sobre a Conferência “Em busca do futuro”, que será realizada de hoje até o dia 01 de abril, em um hotel na cidade de Atibaia. As entidades representativas afirmam que estarão presentes ao evento, mas criticam a forma e o conteúdo da atividade de planejamento da Instituição. Segundo o documento, a conferência deveria ser construído com uma ampla participação da Comunidade Universitária e sem a contratação de uma empresa privada para organizar os trabalhos a partir de uma visão corporativa e de “mercado”. Confira a carta na íntegra.

Carta do Conselho de Entidades da Unifesp

Sobre a realização da Conferência “Em busca do futuro”

No Conselho Universitário (CONSU) de Novembro de 2011 foi criada a Pró-Reitoria de Planejamento da UNIFESP. Nesta ocasião, vários membros representativos das entidades expressaram a preocupação com a criação da Pró-Reitoria. Isso porque em 2010, a Comunidade da UNIFESP optou e votou pela não criação da referida Pró-Reitoria, quando foi aprovado o novo Estatuto. Entendemos que o Planejamento é necessário institucionalmente, no entanto, este deveria estar vinculado à Pró-Reitoria de Administração, ou seja, fomos favoráveis a uma Pró-Reitoria de Administração e Planejamento, pois as duas atividades estão intrinsecamente conectadas. A viabilidade das propostas de planejamento está intimamente associada à disponibilidade e priorização com base concreta no orçamento. Em outras palavras, não há garantia de implementar o que se planeja se não se conhecem os recursos orçamentários.

A partir da criação da Pró-Reitoria de Planejamento, o CONSU aprovou a realização de um processo de Planejamento Estratégico que seria realizado por meio da contratação de uma empresa para discutir as bases e propostas para o futuro da UNIFESP. A metodologia foi aprovada no CONSU e passou-se então à primeira reunião da empresa com o próprio Conselho, que foi realizada no dia 29 de fevereiro último. A partir desta reunião, estabeleceram-se alguns critérios para a realização de outra instância, que será a Conferência “Em busca do futuro”, a ser realizada nos dias 30, 31 de Março e 1 de Abril.

Apoiamos e desejamos iniciativas que deem visibilidade a um diagnóstico do presente e ao mesmo tempo apresentem perspectivas concretas para um planejamento futuro.

No entanto, causou-nos estranheza o método apresentado para a realização do referido Planejamento, especialmente nos seguintes aspectos:

1. A falta de informações e de um diagnóstico preciso da atual situação da Unifesp e das situações nos diferentes campi, cada qual com suas especificidades conformando uma base comum que permita o debate sobre a infraestrutura atual, sobre as prioridades e as estratégias para resolver os problemas imediatos;
2. A ausência de reconhecimento da pauta de reivindicações construída pelas entidades como documento de partida, pois representa o acúmulo e a voz das entidades representativas que apresentam as demandas e possíveis soluções para os problemas de curto, médio e longo prazo;
3. A apresentação de uma dinâmica para o Fórum em que os participantes serão os membros do CONSU (60%) e membros externos (40%), sendo que as vagas remanescentes do CONSU foram distribuídas de acordo com critérios não claros de escolha;
4. A inexistência de uma maior representatividade dos diferentes segmentos da Universidade, já que o CONSU atual não reflete toda a diversidade da Universidade e tampouco reflete o real crescimento dos campi. Mais uma vez, os estudantes e servidores técnico-administrativos estarão sub-representados em fóruns da Unifesp;
5.  A realização de um Fórum de Busca do Futuro desconectado do momento atual da Instituição e empreendido do topo para os campi. Defendemos um processo que traduza um planejamento envolvendo a comunidade nas suas instancias decisórias e também os três segmentos, “de baixo para cima” e não o contrário. É importante lembrar que a discussão da reforma do Estatuto, apesar de ter sido um processo apenas consultivo à comunidade, contou com ampla participação e motivação de todos os setores, tendo sido realizada em dependências próprias da Universidade;
6. A contratação de uma empresa privada, com métodos de planejamento estratégico corporativo, ligado a grandes empresas e interesses mercadológicos, o que foge da lógica e da realidade dos preceitos da administração pública e do serviço público federal de uma Universidade que se sustenta na pesquisa, no ensino e na extensão. A Unifesp, inclusive, teria todas as condições e acúmulo para realizar tal planejamento. Assinalamos que integram o quadro de docentes colegas com acúmulo para assessorar os campi e a Reitoria. A contratação de uma empresa privada pode ser vista como uma ingerência externa e estranha à autonomia universitária;
7. A opção pelo confinamento dos participantes em um hotel, por três dias, com um dispêndio de recursos que poderá ser visto como um desperdício pela grande maioria da Universidade, que ficará à parte do processo.

Por fim, queremos afirmar, que não rechaçamos a ideia do Planejamento de Futuro, que entendemos ser uma importante tarefa de estudo dos impactos, exercício democrático e de transparência. No entanto, desejaríamos ver um processo participativo, ascendente e não alijado dos contextos em que vivem os membros da comunidade Unifesp hoje – de necessidade premente de uma cultura institucional diversa e plural para abrigar as diferenças presentes nos campi.

Queremos um Fórum que seja integrado e que contemple os setores, por meio de um Congresso, com delegados escolhidos democraticamente, assim como são feitas as grandes conferências da área de Saúde e de Orçamento Participativo, por exemplo, que não são incompatíveis com a agilidade de decisão e que permitem uma ampla participação, estímulo e sentimento de pertencimento dos atores da comunidade universitária.

Apresentaremos nossas propostas durante esta e outras atividades que visem o desenvolvimento e a melhoria de nossa Universidade. Nossa participação será crítica e construtiva e buscaremos a ampla divulgação e discussão de soluções para resolvermos as questões do presente, pois sem ele não conseguiremos planejar o futuro.

São Paulo, 30 de Março de 2012.