O modelo administrativo oficial da educação superior vigente no Brasil acaba de consumar nova investida contra a autonomia das universidades federais, vilipendiando o que norteia uma postura republicana. O apoio da maioria dos reitores das universidades federais à candidatura petista ao Palácio do Planalto, alardeada pela chamada grande imprensa, fere os princípios mais elementares da autonomia das universidades públicas e reafirma a apropriação do Estado pelo governo de plantão.
Há que se ressaltar, aliás, a dificuldade que temos enfrentado em tentar ter acesso a essa carta de apoio. Em uma época na qual se alardeia tanto o valor da transparência e da coragem de assumir posições.
A “estratégia” é sinistra, orientada e aceita pelos objetivos de conversão da universidade de instituição social em organização produtiva, cujos resultados são insistente e meramente medidos pela gestão de recursos e de desempenho.
Ao vincular a Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) à candidatura de situação à presidência da república, os reitores se engajam em uma participação direta na campanha eleitoral, comprometendo gravemente, mais uma vez, a autonomia universitária.
O sentido político e social da autonomia universitária, historicamente tributário dos princípios que garantiam o regime fundamentalmente democrático das orientações e decisões sobre suas próprias normas, sobre a discussão e definição de suas responsabilidades com a sociedade e com o Estado, tem sido, na universidade plenamente administrada, substituído por uma ordem nociva de gerenciamento de tipo empresarial.
Fazem fortuna, nesse modelo, as ideias de eficiência, de resultados e onde, por isso mesmo, destaca-se a despeito de tudo, o padrão da meritocracia como valor dos mais elevados.
Tanto o artigo 207 da Constituição, na sua generalidade calculada, quanto a LDB, na legitimação do modelo BID “para o ensino superior na América Latina e Caribe”, confirmam a vulnerabilidade da educação frente às investidas técnico-operacionais do mercado.
Seria o caso, em se tratando de ano eleitoral, de reivindicar maior atenção de partidos e candidatos a esses projetos de desmonte e apropriação da educação em geral, e, mais especificamente da educação pública.
Os jornalistas já não informam, antes deformam; muitos dos intelectuais permanecem à espreita, mas em silêncio; os debates televisivos se tornaram ringue de agressões e desfile de mentiras; e não há oposição organizada à altura dos sofisticados meios de propaganda e de engano geral.
No limite, já não importa que não haja um país para governar, desde, claro, que continue havendo poder, mesmo que para ser exercido sem lastro ou responsabilidade.
Diretoria da Adunifesp-SSind – Gestão 2013-2015