Sem sucesso, ministro Weintraub tentou convencer estudantes e acadêmicos de que bloqueio seria de apenas 3,5%
Igor Carvalho
Brasil de Fato | São Paulo (SP), 14 de Maio de 2019 às 10:03
Desde o último dia 30 de abril, quando o ministro da Educação Abraham Weintraub declarou que cortaria 30% do orçamento das universidades federais que provocarem “balbúrdia” em seus campi – citando a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Federal Fluminense (UFF) –, o tema da educação superior ocupou lugar de destaque nas discussões políticas no país.
No dia seguinte ao anúncio da sanção a essas universidades, o secretário de Educação Superior da pasta, Arnaldo Barbosa de Lima Junior, afirmou que o corte de 30% se estenderia “de forma isonômica para todas as universidades.”
A decisão caiu como uma bomba entre os educadores e estudantes que se organizaram e anunciaram para a próxima quarta-feira (15) manifestações por todo o país contra a resolução.
Na última quinta-feira (9), o ministro usou chocolates, em transmissão ao vivo feita via Facebook no perfil do presidente Jair Bolsonaro, para explicar que o governo cortará “apenas 3,5% dos valores destinados às universidades federais”. Para além das chacotas que povoaram a internet, o Weintraub não conseguiu passar uma mensagem confiável.
Após a indigestão com os chocolates, o ministro usou seu perfil no Twitter para veicular um vídeo em que aparece como professor, em frente a um quadro branco, explicando didaticamente os cortes. A mensagem foi compartilhada pelo perfil de Jair Bolsonaro, que trava uma luta pessoal contra a intelectualidade brasileira e já afirmou que pretende combater o que chama de “marxismo cultural” nas universidades do país.
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Weintraub ainda tentou ressignificar o corte: chamou de “contingenciamento” e anunciou que a medida será revista no segundo semestre.
Entenda
Na última versão do governo, em que seriam cortados 3,5% do orçamento das universidades federais, o valor é dividido entre dívidas obrigatórias e não obrigatórias, sendo que somente a segunda é susceptível à alteração pelo MEC.
Separando, então, o valor apenas das dívidas não obrigatórias – que abrangem serviços como luz, internet, água, serviços de limpeza, segurança, obras e equipamentos de trabalho –, o governo cortará 30% das verbas das universidades que o ministério pode alterar, o que equivale a R$ 1,7 bilhão.
Nesse sentido, Daniel Feldman, professor do departamento de Economia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Associação dos Docentes da Unifesp (Adunifesp), explica que o corte será, sim, de 30%, mas “algumas universidade podem ter cortes de mais de 30%”. Para ele, a confusão feita pelo governo na apresentação dos dados é proposital e serve como resposta para seus eleitores.
“A tática é jogar a sociedade, que ou não conhece a fundo a universidade, ou que está desinformada, contra nós. Dizer que é balbúrdia, que a universidade não produz nada. O Bolsonaro falou aquele absurdo que a universidade não produz pesquisa. Mas aí você pega a lista das 50 universidades que mais produzem pesquisa no Brasil, 49 são públicas”, afirma Feldman, que ministra suas aulas no mesmo campus da Unifesp onde Weintraub atuava.
Ainda de acordo com o docente, a falta de projeto do governo faz com que medidas como os cortes sejam apresentadas, “sem qualquer estudo”.
“Eu diria que 95% da universidade brasileira rechaça o conjunto das políticas do MEC, não só os cortes, mas toda a visão deles. Quer dizer, escola sem partido, que se discute política dentro da universidade. Como se o próprio ministro não fizesse política, ele era da campanha do Bolsonaro falando pela Unifesp, até ele assumir o cargo”, finaliza.
Edição: Aline Carrijo