O professor Reginaldo Nasser foi vítima de ataques racistas na PUC-SP na semana passada. Sendo pesquisador da área de Conflitos Internacionais/Geopolítica do Oriente Médio e docente da PUC há mais de 35 anos, ele foi alvo de pichações espalhadas no campus da universidade: “A PUC não é para árabes: hora de limpar as RI”. “A PUC é nossa! A reitoria é nossa!” Em meio a tais frases, a estrela de seis pontas (da bandeira de Israel) aparece algumas vezes.
Reginaldo Nasser é o único professor descendente de árabes no departamento de RI (Relações Internacionais) da PUC. Há meio ano atrás, ele e o professor Bruno Hubermann, de origem judaica e crítico do sionismo, foram caluniosamente acusados de “antissemitismo”: a pedido da Federação Israelita de SP, foram investigados por uma sindicância da PUC, que concluiu “não ter identificado situações que justificassem a aplicação de medidas disciplinares aos investigados”.
Acusações desse tipo têm sido cada vez mais frequentes em campi de universidades – particularmente nos EUA e na Europa – como forma de calar críticas às políticas israelenses em Gaza, na Cisjordânia ou contra o povo palestino em geral. Elas são tipicamente moldadas para – proposital e artificialmente – misturar e fazer confundir o que não pode ser confundido: a reflexão crítica a um Estado – por exemplo, Israel, sua ideologia oficial (o sionismo) e suas políticas – com a prática do antissemitismo, que é o ódio a, ou o preconceito contra, pessoas de origem judaica independentemente do que pensam ou defendam. A primeira (a reflexão crítica) é algo absolutamente normal e aceitável: o direito de pratica-la deve ser incondicionalmente defendido como parte integrante ao indispensável debate de ideias que deve prevalecer em qualquer ambiente acadêmico. A segunda, o antissemitismo – assim como o anti-arabismo, ou quaisquer outros tipos de racismos ou preconceitos – é algo repugnante e inadmissível dentro ou fora dos muros de uma Universidade.
Forçar uma falsa identificação e/ou confusão entre ambas, acusando de praticar a segunda a quem, de fato, exerce a primeira, é levar a cabo a mais abjeta e pusilânime desonestidade intelectual. Trata-se, neste caso, de uma afronta à liberdade de cátedra e de expressão a docentes universitários. Mais do que isso, a frequente fabricação e manipulação de prestidigitações caluniosas do tipo incentiva e reproduz em larga escala o ambiente de ódio que acaba por levar a ataques intimidatórios, como os que o professor Reginaldo Nasser foi vítima na semana passada – por ora, “apenas” – através de pichações racistas.
Toda solidariedade ao professor Reginaldo Nasser. Que a PUC-SP investigue e puna com rigor os responsáveis pelos ataques que ele vem sofrendo.
Diretoria da Adunifep