Contra a política financeira do governo, docentes em greve fazem ato nas sedes do BC

Manifestação reuniu centenas em frente às várias sedes do Banco Central espalhadas pelo país

Enquanto o orçamento da União, destina 47,19% dos recursos públicos para juros e amortização da dívida, o governo federal compromete apenas 3,18% da previsão orçamentária com educação. Contra essa política financeira, que privilegia os bancos em detrimento dos serviços públicos, é que professores, técnicos-administrativos e estudantes em greve realizaram manifestações em frente as sedes do Banco Central em diversas partes do país.

Em Brasília, o ato teve início às 11 horas e reuniu cerca de 250 pessoas. “Com essa política, o governo demonstra claramente que sua prioridade não é o ensino público de qualidade”, denunciou Marinalva Oliveira, presidente do ANDES-SN.

Ela ressaltou ainda que, apesar da Câmara ter aprovado a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, o prazo para atingir esse percentual foi elevado até 2023. Vale lembrar que os movimentos sociais e estudiosos da área vêm cobrando a aplicação imediata deste percentual, como condição mínima necessária para começar a reverter o quadro de precariedade em que se encontra a educação pública no país.

“Além de aumentar o prazo do PNE, o plano destina a verba pública para a educação como um todo. Ou seja, também para o setor privado”, apontou Marinalva.

A presidente do ANDES-SN disse ainda que mesmo diante de uma greve forte no setor da educação, que aponta a necessidade urgente de ampliação de recursos a essa área , o governo não tem a menor disponibilidade, boa vontade política em por fim a greve, ao empurrar a negociação com professores e técnicos-administrativos.

Falando em nome do Comando de Greve dos estudantes, Mariana Percia (Ufal), afirmou que a greve é resultado de um grande balanço do projeto de expansão via Reuni, que aprofundou a precariedade nas Instituições de Ensino federais. “Já somamos mais de 35 universidades em greve estudantil. Estamos ao lado dos professores e dos técnicos nessa luta pela melhoria das condições em nossas universidades”, disse.

Bernardo Soares (UFF), também do CNG dos estudantes, lembrou que atualmente o auxílio estudantil oferecido pelo governo é de R$ 354,00 e prevê exclusividade. “Ou seja, o estudante não pode trabalhar e tem que pagar xerox, transporte e ainda viver com o que sobra”, denunciou.

William Carvalho, do CNG do Sinasefe, contou que atualmente são 183 campi em greve e a perspectiva é de adesão total ao movimento. “Não vamos sair dessa greve sem de fato negociar e ter nossas reivindicações atendidas. Queremos negociar já. É inadmissível que o governo continue empurrando com a barriga a negociação”, disse.

Paulo Henrique dos Santos, da Fasubra, lembrou que a reivindicação dos trabalhadores em educação é justa e que a luta é também por dignidade. “Nós queremos melhores salários e também mais recursos para educação e saúde. A melhoria na qualidade dos serviços públicos depende da valorização dos trabalhadores que prestam esses serviços”, ressaltou.

Participaram também da manifestação representantes da CSP-Conlutas, CUT, CTB e o presidente do Sindicato dos Técnicos do Banco Central, Antonio Maranhão. Ele prestou solidariedade aos manifestantes e disse que os técnicos do BC também estão junto na luta com os demais servidores públicos federais por melhores condições de trabalho.

“Não se constrói uma nação sem investimento em educação. A política do governo Dilma vai na contramão ao desvalorizar essa categoria. Nós repudiamos essa postura e acreditamos que os professores têm que ser respeitados”, afirmou Maranhão, conclamando os demais técnicos do Banco Central a se juntarem na luta dos trabalhadores em educação.

Em nome do Comando de Greve dos docentes do ANDES-SN, a professora Celi Tafarel, reforçou que em todo o país estavam sendo realizados atos conjuntos que se caracterizavam por trazer às ruas todos os segmentos da educação: professores, técnicos-administrativos e estudantes.

“Demonstramos que não estamos de acordo com a forma como o governo vem tratando a educação e seus trabalhadores. Combateremos até onde for necessário para garantir o que é de direito da classe trabalhadora: educação pública e de qualidade para todos. Defender a educação é defender a soberania nacional”, ressaltou ela, completando que este é um momento histórico de luta.

“A nossa greve continua forte e seguirá até que tenhamos nossas reivindicações atendidas”, finalizou.

Apoio à manifestação

Em meio aos professores, técnicos e estudantes em greve, a mãe de um aluno da Universidade de Brasília declarava seu apoio à luta dos grevistas. Sandra Ribeiro, que tem, além do filho, uma sobrinha estudando na UnB reclamou da precariedade nas condições de ensino e de permanência dos estudantes nas instituições.

“Eles têm que se mobilizar mesmo e contar com o apoio dos pais dos estudantes. Só assim vamos ter o devido retorno dos impostos que pagamos. Hoje, só quem tem dinheiro pode oferecer uma educação de qualidade aos seus filhos. Nós lutamos tanto para que eles consigam chegar à universidade, para ter ensino de qualidade e não do jeito que está”, disse.

Movimento grevista

A greve dos docentes das instituições federais de ensino, iniciada no dia 17 de maio, continua crescendo. De acordo com o último boletim do Comando Nacional de Greve (CNG), até domingo 56 instituições tinham comunicado que estavam em greve. Acesse, aqui, o quadro elaborado pelo CNG.

Com a deflagração de greve nas bases da Fasubra e Sinasefe, o movimento segue forte e sem perspectiva de término até que o governo apresente uma proposta de negociação efetiva com os docentes e técnicos-administrativos, o que não ocorreu até o momento.

Fonte: ANDES-SN