Paulistinha: Chá da tarde com as Famílias

No dia 27 de novembro de 2017 foi realizada no Núcleo de Educação Infantil da Unifesp, a Paulistinha, uma confraternização conjunta entre os funcionários, alunos e famílias com o propósito de resgatar a história da instituição e proporcionar reencontros, afetos e memórias. Na oportunidade, Roseli Nascimento, funcionária da Adunifesp-SSind, mãe de ex-aluna da Paulistinha teve um espaço de destaque com relato de sua relação com a instituição. Segue abaixo seu emocionante discurso.

UMA HISTÓRIA DE GRATIDÃO

Meu nome é Roseli Nascimento, sou mãe de uma ex-estudante da EPEI, hoje com 23 anos e que se chama Ariadne.

A história de nossa filha com a Paulistinha se iniciou no ano de 1994, nos seus quatro meses de vida. Para todo pai e toda mãe, um filho é um ser muito especial, porém, em nosso caso, ela era e é mais especial ainda, pois é portadora de uma deficiência intelectual, ocasionada pelo contato com o vírus da rubéola, durante a gestação.

Ela era e continua sendo nossa única filha. Sendo assim, desde os primeiros dias de vida, já sabíamos que nosso bebê seria diferente dos demais e, a partir daí, fomos nos preparando para encarar este fato para o resto de nossas vidas. Foi confuso e em muitos momentos tivemos medo, mas nunca, em tempo algum, perdemos a Fé de que nossa filha seguiria um caminho traçado por Deus e só rogamos a Ele força, coragem e Sabedoria para entender Sua vontade. Sempre tivemos e temos esperança.

Como narrado acima, Ariadne veio para Paulistinha aos 4 meses, e permaneceu na instituição até os seus 4 anos e 9 meses – 1999. A partir deste momento, ela foi transferida para uma escola especial, onde permaneceu estudando até seus 19 anos.

Temos, eu e meu marido, muita gratidão à Paulistinha, pois nos deu forças, nos instrumentou e acolheu até onde foi humana e pedagogicamente possível. Quando a questão da dificuldade de aprendizado se instalou, procuramos por avaliação psicopedagógica na EPM e, ao constatarmos que mudanças precisariam ser feitas, recorremos à Paulistinha para nos dar apoio. Naquela época, a questão da inclusão ainda era muito recente e não havia como os profissionais da EPEI auxiliarem nossa filha. Mas fomos acolhidos em nossa necessidade e buscamos ajuda de todas as formas.

Durante os tempos de permanência de Ariadne na EPEI, tivemos muitas alegrias e alguns fatos pioneiros ocorrem naquele tempo, tanto com nossa filha como com a Instituição EPM/EPEI. O primeiro e mais emblemático de todos, foi a forma como Ariadne ingressou na Paulistinha. Naqueles tempos, o ingresso dos bebês e crianças na EPEI era estabelecido pelo vínculo empregatício da mãe, funcionária da SPDM ou servidora da EPM. E eu, não fazia parte desses quadros, naquela época. Porém, meu esposo era funcionário da SPDM e a Paulistinha vinha percebendo e recebendo demandas, creio eu, de que os pais também precisavam desse amparo. Dessa forma, meu esposo entrou, ainda durante a gestação de Ariadne, com o pedido de vaga para ela. Meu esposo Silvio Nascimento e mais dois pais, um funcionário da SPDM lotado no Departamento de Dermatologia e outro, servidor da EPM lotado no Departamento de Pediatria foram os primeiros a ingressar com seus filhos na Paulistinha, mesmo suas esposas e mãe de seus filhos, não sendo contratadas da EPM/SPDM.

Podem imaginar o avanço que isso significou e como os três papais eram admirados pelo pioneirismo – até então, a comunidade EPM/SPDM não estava muito habituada a ver homens trazendo seus bebês para a escolinha! Isto abriu portas para outros casos, evidentemente, devido à sensibilidade desta Instituição. Infelizmente, hoje o colega da Dermatologia já não se encontra entre nós, e o outro pai, que trouxe seu filhinho também portador de necessidades especiais, infelizmente o perdeu, anos depois.

Outro fato inédito, é que ao empreender minha busca pela nova escola para Ariadne, fiz contato com o instituto DERDIC (ligado à PUC-SP), que relacionava em um grande catálogo, nome, endereço e informações detalhadas de instituições e escolas para portadores de necessidades especiais, em toda a grande São Paulo e Capital. Doei este catálogo à EPEI naquela época.

Temos gratidão a ser expressa à instituição EPM/SPDM, na figura de algumas pessoas e entidades:

  1. Profa. Dra. Márcia Regina Pedromônico, do Departamento de Fonoaudiologia, falecida em 2005, a qual foi a principal responsável por detectar as necessidades psicopedagógicas de nossa filha e, pessoalmente, esteve conosco diante da diretoria da EPEI daqueles anos 1998/1999, tratando do que poderia ser feito em prol de Ariadne.
  2. As funcionárias e diretora da Paulistinha daqueles anos. Infelizmente, não recordo o nome de todas, mas de algumas ainda posso me lembrar: Gorete, tia Carla, Cristina (Assistente Social), Diretora Fernanda, Lúcia (da secretaria).
  3. Professoras Doutoras Catharina Brandi e Rosa Apparecida Pimenta de Castro – uma sucedeu a outra na Diretoria do extinto Departamento de Assuntos Comunitários (DAC), que era então responsável pela Paulistinha e política assistencial aos funcionários da SPDM e servidores da EPM. Foram elas que me deram coragem para ir à busca do melhor para minha filha, mesmo que longe daqui, porque eu me tornei funcionária da Associação dos Docentes da EPM, quando minha filha contava 1 ano e 2 meses. Essas professoras foram uma inspiração de força, coragem e fé para mim: como mãe, mulher e trabalhadora.
  4. Agradeço a Associação dos Docentes. Em 1995 me tornei funcionária da Associação dos Docentes da EPM, hoje da UNIFESP, e ainda permaneço em seus quadros. E por que agradeço à Adunifesp (antiga Adepm)? Porque sem meus queridos chefes daquela época, dos anos vindouros e dos tempos atuais, não teria sido possível para mim, meu esposo e minha filha, enfrentarmos as dificuldades e continuar sorrindo diante das alegrias que vivemos e desfrutamos.

A vida seguiu, Ariadne foi muito feliz na Paulistinha e também na escola onde estudou dos 4 aos 19 anos. É alfabetizada, leitora voraz de livro virtuais e em papel. Meu esposo deixou de ser funcionário da SPDM no começo dos anos 2000 e eu permaneço na universidade. Enfim, a história de nossa família com esta instituição não poderia ser das mais rica e repleta de aprendizado.

Eu, especialmente, sou muito grata a tudo que vivi e vivo, e agradeço a oportunidade, depois de 19 anos poder compartilhar nossa história de vida com a Comunidade! Agradeço pela honra e pela oportunidade que me foi dada neste momento, na figura das professoras Ana Paula Nascimento e Andréia Camargo!

Com afeto e gratidão,

Roseli Nascimento

27/11/2017