Carta aberta da Adunifesp-SSind à comunidade acadêmica

Pela Democracia como valor inegociável na Universidade Pública

A Universidade Federal de São Paulo é uma das principais instituições do País em termos de ensino, pesquisa e extensão do País. Com corpo docente, técnico administrativo e discente altamente qualificados, a Unifesp tem se pautado não apenas em excelência, mas como também na pluralidade de perspectivas, no rigor teórico-metodológico e no respeito ao dissenso. Tal situação não surgiu espontaneamente, mas tem sido antes uma conquista histórica dos movimentos de docentes, técnicos e estudantes que precisa ser tanto cultivada quanto conservada.

A Associação dos Docentes da Unifesp (Adunifesp-SSind), sindicato dos professores da nossa instituição, tem sido uma das importantes frentes nesse sentido. Em seus mais de 40 anos de existência, esteve empenhada na luta por recursos, carreiras, financiamento de pesquisas e a expansão e construção democrática da Universidade, movimento do qual destacamos a participação nas consultas paritárias à comunidade acadêmica para indicação das listas de reitor e vice-reitor, bem como de direções de unidades acadêmicas. Pela integração com as entidades de técnicos-administrativos e de estudantes, promove o debate e, sempre que necessário, toma posições firmes ao lado daqueles que defendem a democracia não com um mero recurso retórico, muitas vezes ocultando objetivos escusos, mas como um valor inegociável para o estabelecimento de uma convivência digna, pautada por ética, respeito e civilidade.

Com o desencadeamento da crise econômica e política vivida atualmente, setores que desde a última ditadura militar se sentiam constrangidos em se pronunciar em público perderam o pudor de atacar os fundamentos da produção do conhecimento socialmente referenciado. Com objetivos inconfessáveis, têm apelado para discursos falsos, de cunho moralista, e inversão argumentativa de modo a buscar apoio externo à comunidade acadêmico-científica, quando não recorrem à força física propriamente dita, para impor o pensamento único e retrógrado ao ambiente das muitas ciências, da filosofia e das artes.

Tais atitudes autoritárias e truculentas há muito deveriam estar sepultados. Apelam para a homofobia, o racismo, a sociopatia, a difamação de colegas de academia, apologia à tortura e à violação dos Direitos Humanos como se estes crimes fossem mera questão opinativa. Podemos citar: o processo sofrido pela professora Eleonora Menicucci, do Campus São Paulo (medicina preventiva), por ter criticado a apologia ao estupro; as perseguições à pensadora Judith Butler sem conhecimento dos temas de debate e o porquê de sua vinda ao Brasil; a ação de policiais militares no Campus Baixada Santista, muitos deles fardados e armados, em protesto contra o ensino de Direitos Humanos no estado de São Paulo; as pichações racistas, machistas e xenofóbicas em banheiros de alunos nos diversos campi; e, mais recentemente, a convocação feita pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro para que seguidores e admiradores de seu pai confrontassem estudantes do Campus Osasco nas redes sociais, resultando na ameaça de agressão física e emboscadas de alguns de nossos alunos.

O avanço deste autoritarismo truculento não é fortuito, tampouco pueril ou desarticulado. Ele é acompanhado por campanhas propagandísticas e ações econômicas com vistas a desmontar a universidade pública, contando inclusive com discursos tecnicistas autodenominados reserva moral da ciência, como quem faz o trabalho interno preparando a ofensiva externa. Estamos sob ataque financeiro, político e ético-moral. Nossa legitimidade na sociedade, bem como a continuidade de nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão são minadas, ameaçando-se a Universidade Pública e a própria soberania nacional.

Em um momento tão grave, a Adunifesp não faltará em firmar a posição intransigente em defesa de princípios basilares do espírito democrático e comunitário com o qual se constituiu há mais de 40 anos na defesa da autonomia política e científica da nossa universidade, pautada em: democracia, diversidade, diálogo, ética, civilidade e pluralidade. Defendemos toda a liberdade de manifestação dentro de tais princípios. Não tomamos como aceitável a relativização dos Direitos Humanos e do trato ético com colegas de trabalho e estudantes. Reconhecemos a liberdade de manifestação e o protagonismo das categorias democraticamente organizadas em entidades voltadas à construção do consenso diante dos dissensos, entidades essas que promovem o diálogo e a construção de movimentos legítimos, coletivos, comunitários e solidários de professores, técnicos e, principalmente, estudantes, cuja formação cidadã, profissional e científica é, no limite, a razão de existir de nossa instituição, o nosso efetivo compromisso para com o País.

Rechaçamos quaisquer práticas de assédio, ameaças e condutas antipedagógicas.

Diante de tal desafio, e da sombria perspectiva do aprofundamento dos ataques de truculência autoritária, conclamamos os associados da Adunifesp-SSind a juntarem forças em nosso sindicato, legítimo e apto instrumento para resistir e repelir as tentativas de degradação do ambiente universitário e da nossa excelência em ensino, pesquisa e extensão. O ano de 2018 se anuncia de muita luta. Será momento de unidade e participação. Não há como resistir individualmente a ataques externos ou internos à comunidade acadêmica. Contamos, assim, com os associados e convidamos os não associados para se juntarem institucionalmente ao sindicato, bem como ao espírito de defesa da ética e da civilidade na Universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada.

A Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade Federal de São Paulo (Adunifesp-SSind)