Infraestrutura ainda deixa a desejar

Apesar de passados mais de cinco anos do início da expansão da Unifesp, a infraestrutura dos novos Campi ainda deixa muito a desejar. Problemas de todo tipo atrapalham o pleno desenvolvimento e demonstram falta de planejamento, financiamento público e projeto integrado. Vários terrenos e prédios não pertencem à Instituição e não apresentam condições adequadas de educação e trabalho. Além disso, a expansão trouxe impacto negativo para o Campus da Vila Clementino, com a continuidade e aprofundamento de antigos problemas como falta de salas de aula e material didático, resultado do direcionamento dos recursos para os novos Campi.

SJC

Em São José dos Campos, foi inaugurado em agosto um novo prédio no Campus, sem o qual não seria possível comportar os estudantes ingressantes. Não há dúvidas de que a nova estrutura é superior à antiga – um prédio ao lado, que continuará abrigando a parte administrativa – mas, mesmo assim, os estudantes ainda reclamam da infraestrutura. Até o meio deste ano, o Campus não tinha sequer um auditório. “Contará com pelo menos um pequeno”, relata um discente. “Apenas agora há uma biblioteca realmente”, critica outro.

Existe ainda um complicador: ambos os prédios estão em um terreno pertencente à prefeitura e foram construídos com verba municipal e não do Ministério da Educação. Tal fato escancara que a expansão não tem financiamento adequado e pode acabar direcionada apenas para municípios que tenham condições de “bancar” a vinda de universidades federais. Mais uma medida de desresponsabilização da União com a educação superior.

O principal problema destacado pelos estudantes, no entanto, foi o pequeno número de professores. Segundo eles, a relação de docentes por alunos no Campus é apenas metade da recomendada pelo MEC. “Temos bons professores que poderiam estar se dedicando mais à pesquisa e extensão, mas acabam sobrecarregados”, afirma um deles. Em relação à segurança, dizem que a travessia do viaduto vizinho ao Campus é perigosa e que alguns estudantes foram assaltados mesmo durante a tarde. “No período da noite o jeito é andar em grupo”, afirmam.

Santos e Diadema

Atualmente, os dois principais prédios onde há aulas no Campus de Santos são alugados. A administração da Unifesp tentou construir um edifício próprio no centro da cidade, mas uma polêmica com moradores do local inviabilizou a obra. Seria preciso despejar dezenas de famílias e a Instituição corretamente desistiu do espaço. A falta de equipamentos é outro problema grave. O curso de Educação Física formou a primeira turma em 2009 e os alunos não tiveram acesso a parte das aulas práticas. Já a pós-graduação no Campus, inaugurada este ano, começou com atrasos devido à falta de estrutura.

Em Diadema, o Campus está dividido em três. A Fundação Florestan Fernandes, uma instituição municipal, abriga os veteranos e o ciclo básico noturno; um prédio no bairro Eldorado, os laboratórios; e um antigo colégio alugado no bairro Brasília, o restante do ciclo básico. Outro edifício está prometido para outubro e existe também um plano futuro para a construção de uma cidade universitária no bairro Morungaba, na divisa com São Bernardo.

A divisão e a falta de infraestrutura vêm gerando todo tipo de complicação. Só há sala de informática no Eldorado, por exemplo. A biblioteca da Florestan tem alguns computadores, mas está sempre lotada, com estudantes muitas vezes no chão. Além disso, os prédios de Diadema simplesmente não têm copiadoras. “Hoje, quando precisamos tirar cópia temos que caminhar até as papelarias próximas, que muitas vezes cobram caro, além da qualidade não ser lá essas coisas”, reclama um estudante.

O prédio no bairro Brasília começou a ser utilizado este ano por incapacidade dos outros dois de absorver os novos alunos. Uma discente afirma que há graves problemas de isolamento térmico – fazendo muito frio ou calor – e acústico, com as salas de aula atrapalhando umas às outras. Já o bairro do Eldorado é bastante distante, não oferece serviços básicos à comunidade universitária e é considerado perigoso pelos estudantes. “Não dá para andar só”, afirma um. Apesar de este problema ser mais grave por lá, eles relatam assaltos e roubos de carros também em locais próximos dos outros dois prédios. Existem ainda reclamações quanto ao número insuficiente de laboratórios no edifício do Eldorado, muitos ainda em construção. “Os alunos do primeiro ano de farmácia tiveram aulas em um laboratório equipado apenas com microscópios”, critica uma estudante do curso.

Guarulhos

O projeto original do Campus de Guarulhos previa a construção de um edifício próprio da Unifesp, ao lado do atual prédio provisório, pertencente à prefeitura. Até o momento o processo está parado por problemas jurídicos. Na primeira licitação, o critério preço foi decisivo, habilitando uma empresa que não se mostrou capaz de honrar suas obrigações. Apenas em 2008 foi criada uma estrutura para gerir a expansão, o que se feito antes, poderia ter evitado tal problemas. Atualmente, recursos jurídicos de concorrentes em relação à segunda licitação retardam ainda mais as obras.

Devido à falta de classes disponíveis para as turmas ingressantes em 2010, a Unifesp utiliza 16 salas de uma escola também cedida pela prefeitura. O fato atrasou em duas semanas o início das aulas e prejudicou as atividades pelo excesso de poluição sonora e do ar decorrentes de o local ainda estar em obras. Em relação ao prédio principal, um grupo de estudantes relata que faltam classes, o laboratório de informática continua utilizando o mesmo espaço provisório de quatro anos atrás – quando a comunidade era muito menor – e a biblioteca não comporta os livros. A acessibilidade também é bastante criticada: muitas salas são alcançadas apenas por escadas, os banheiros não são adaptados para portadores de deficiência e quem vai de ônibus precisa subir uma ladeira para chegar ao Campus.

Outra questão apontada como caótica é o serviço de xérox, que exige cerca de uma hora de fila nos horários de pico. Muitos alunos já desistiram de copiar os textos e improvisam outras maneiras de acessar os conteúdos das disciplinas. “Ou assistimos as aulas ou xerocamos os textos”, reclama um. Uma cota de impressões no laboratório de informática foi atendida pela Reitoria, mas o número é considerado irrisório pelos estudantes das ciências humanas, apenas 50 cópias por mês. O apoio às entidades estudantis também é criticada. Existe um espaço de convivência, mas os alunos consideram inadequado para suas atividades políticas e culturais.

Estudantes do curso de história contam que o Campus teve um impacto econômico negativo para a população mais pobre do bairro, com a valorização dos imóveis e de parte dos serviços, como alimentação. “A relação da universidade com a comunidade é muito baixa”, avalia uma discente. Além disso, o impacto atingiu também o transporte público da região. “O envolvimento com a melhora do transporte seria uma forma de a universidade não só facilitar a vida dos estudantes, mas também recuperar a qualidade dos ônibus que superlotaram após a chegada da Unifesp”, afirma uma estudante. Um cursinho popular organizado pelos alunos é uma das poucas iniciativas de integração.