Faculdade Municipal de Osasco é prejudicada pela chegada da Unifesp

No dia 28 de abril de 2008, em cerimônia pomposa, Osasco recebeu o Presidente Luis Inácio Lula da Silva, o Ministro da Educação Fernando Haddad e muitas outras autoridades, para anunciar a construção naquele município de uma unidade da Unifesp. Um palco foi montado no terreno que supostamente sediaria o Campus, comprado do Exército pelo governo federal pelo valor de 25 milhões de reais. Milhares de pessoas compareceram ao evento no qual foi anunciado que as obras estariam prontas em março de 2010. Neste mesmo dia, um jequitibá, símbolo de nossa universidade, foi plantado pelo presidente no terreno. À época, o atual prefeito de Osasco, Emídio de Souza, iniciava sua campanha como candidato à reeleição. Passados mais de dois anos, o terreno continua do mesmo jeito.

Este ano, no dia 14 de abril, chegou ao Conselho Universitário da Unifesp a proposta da Prefeitura de Osasco de doar por vinte anos o prédio da FAC-FITO, uma faculdade municipal com mais de 40 anos de história, para abrigar o Campus de nossa Instituição na cidade. Sem muitos detalhes sobre o caso, o Consu aceitou, sob a alegação de que a faculdade é uma instituição falida e em vias de fechamento. Curiosamente, à imprensa e à sociedade local, o poder municipal confirmou a doação, mas garantiu que a FAC-FITO continuaria existindo, agora em um prédio novo, prometido para setembro, véspera das eleições, “com instalações mais adequadas e melhor estrutura”.

Imediatamente, a concessão do prédio da FAC-FITO revoltou a comunidade local, que ficou sabendo de tudo apenas pela imprensa. Um grupo grande de professores e estudantes organizou um movimento em defesa da faculdade, realizando uma série de manifestações e passeatas. Segundo eles, o atual prefeito vem patrocinando o “desmonte” da Instituição. A entrega do prédio seria apenas o último golpe de um longo período de abandono, no qual a FAC-FITO perdeu metade de seus estudantes e viu sua dívida explodir. O boicote do poder municipal seria tão grande que no último ano, professores tiveram que fazer “vaquinhas” para produzir faixas de divulgação do vestibular.

A disputa em torno da doação do prédio polarizou a cidade e lamentavelmente atingiu a imagem da Unifesp, mesmo antes desta existir no município. A prefeitura abriu uma guerra de contrainformação, enchendo os jornais locais e a cidade de outdoors, anunciando a chegada da federal e a construção do novo prédio da FAC-FITO. Além disso, tenta responsabilizar o movimento em defesa da faculdade em caso de adiamento ou da não viabilização da federal na cidade. A repercussão gerou calorosos debates na Câmara Municipal de Osasco e deputados locais chegaram a protestar em discursos no Congresso Nacional. Mesmo assim, o movimento reclama que falta oposição na cidade e há um boicote da imprensa local, que em sua maioria teria “rabo preso” com a prefeitura. “Três passeatas pararam a cidade e nem foram noticiadas”, denuncia um professor.

Em audiência com o Reitor da Unifesp, Walter Albertoni, um grupo da FAC-FITO esclareceu que não era contra a ida da federal para Osasco, mas que apelava para que a desapropriação não fosse aceita. Já o Reitor alegou que eles deveriam se entender com a Prefeitura e que não poderia interferir. Sobre o terreno adquirido do Exército, Albertoni afirmou que a verba para a construção do campus não teria sido liberada, o que seria um completo absurdo após a inauguração eleitoreira da obra pelos governos federal e municipal em 2008.

O novo prédio para abrigar a FAC-FITO está sendo erguido às pressas em terreno vizinho ao atual. Ainda em obras, aos olhos de qualquer um já demonstra ser uma estrutura inferior à anterior. Um grupo de professores analisou a planta e a construção e produziu um documento com uma série de reivindicações. “Hoje temos 23 classes ocupadas. O prédio novo só vai ter 18. Faltam banheiros, não há salas de estudo, a biblioteca é pequena e o espaço insuficiente para os laboratórios. Não há quadra, nem local para o Diretório Acadêmico”, afirma um dos docentes. Além disso, a comunidade reclama da mudança que terá que fazer no meio do semestre e que deve prejudicar suas atividades.

A revolta é ainda maior com o fato de a administração municipal construir o prédio em poucos meses, sendo que há anos a FAC-FITO vive abandonada. “Desde que assumiu o prefeito não paga nosso FGTS, INSS, PASEP e não temos reajustes de salários. Agora aparece uma verba de três milhões para construção do prédio. De onde surgiu?”, denuncia uma docente. “Nunca tinha dinheiro pra investir e agora tem?”, questiona um segundo professor. Outro fato que impressiona é que os cursos que serão oferecidos pela Unifesp já são oferecidos pela FAC-FITO: administração, economia e ciências contábeis. A única novidade seria o de relações internacionais.

A comunidade teme que com todas estas adversidades a faculdade municipal não resista e acabe fechando, com a transferência em massa dos alunos para outras instituições e a demissão de professores e funcionários. O movimento em defesa da FAC-FITO promete continuar lutando em várias frentes para manter o prédio. A seu pedido, a Curadoria das Fundações abriu uma ação cívil no Ministério Público baseada na preservação do patrimônio da faculdade. Mesmo assim, temem que até que o processo seja julgado, a perda do prédio já seja um fato consumado. A novela do Campus de Osasco parece longe de acabar e promete capítulos ainda mais dramáticos.