Ciclo de Palestras marca final de ano da Adunifesp

A intensificação do trabalho docente nas federais, o impacto das Organizações Sociais no Sistema de Saúde e a aplicabilidade de Foresight Estratégico nas universidades públicas foram os temas debatidos no Ciclo de Palestras organizado pela Adunifesp no final de 2009. Clique em leia mais para acessar um pequeno relato de cada mesa.

Trabalho intensificado nas federais

Ministrando palestra sobre o “Trabalho Intensificado nas Federais”, o professor da UFSCAR, João dos Reis, autor de obra de mesmo nome, debateu o impacto da hegemonia do “tempo do mercado” nas universidades públicas. O expositor alertou para as conseqüências dramáticas desta política. “Todas as pesquisas sobre saúde do trabalho apontam para um aumento das doenças e problemas psicológicos graves entre os professores”, afirmou.

João dos Reis classificou a aplicação deste novo modelo como uma política articulada do Estado brasileiro nas últimas décadas. Ao mesmo tempo em que os governos diminuem o financiamento, transferem responsabilidades para gestores e docentes. “A queda do financiamento das IFES foi de cerca de 30% nos últimos vinte anos”, denunciou.

A pós-graduação seria a “ponta-de-lança” desta nova lógica, através de bolsas de produtividade, escassez de financiamento estatal e direcionamento privado. Esta nova política obrigou os docentes a recomporem a sua estrutura de trabalho. “O intelectual da universidade passa a ser o professor profissional, o que atinge diretamente a subjetividade do trabalho acadêmico”, criticou João dos Reis. “É a ciência com hora marcada”, concluiu.

OSs e inserção privada no SUS

A Economista e Doutora pela Medicina Preventiva da USP, Maria Luiza Levi, apresentou seu trabalho sobre o impacto das Organizações Sociais (OSs) no Sistema de Único de Saúde (SUS) em São Paulo. A palestrante criticou o sistema brasileiro por pretender ser universal, mas contar com financiamento insuficiente. “O gasto per capta em saúde no Brasil é de mil reais por ano. Já em países desenvolvidos, é de dois a três mil dólares por ano”, disse.

Atualmente, os estabelecimentos privados e filantrópicos respondem pela maior parte da provisão de serviços do SUS. “O modelo das OSs é a opção por aprofundar ainda mais esse quadro”, afirmou. Entre 2002 e 2007, o repasse para as organizações sociais cresceu 100%, tornando-se o terceiro maior gasto em Saúde no Estado, mais de 20 bilhões. Além disso, desde 1998, todos os novos hospitais já foram implantados sob este modelo.

Maria Luiza Levi concluiu afirmando ser fundamental um aprimoramento das OSs, principalmente porque até 2007 houve uma grande variação nos valores médios dos serviços cobrados por cada OS. “Não é uma terceirização grosseira como o antigo sistema municipal do PAS, inclusive porque se preocupa com a qualidade”, defendeu em contrapartida.

Foresight Estratégico

Já o professor da Unifesp e membro do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos do Ministério de Ciência e Tecnologia, Esper Abrão Cavalheiro, palestrou sobre seu trabalho de elaboração de um Foresight Estratégico junto à Faculdade de Medicina da USP. “Pensamos o que a USP vai querer ser daqui a 15 anos? E as formas de se chegar lá”, afirmou. O Foresight é a construção de uma visão de futuro, a partir da integração das atividades da instituição em sistema. “Delimitamos que o futuro está na elaboração de políticas em saúde. Eles querem sair da faculdade e ir para a sociedade”, resumiu.

Um “gargalo” importante identificado seria a falta de diálogo entre pesquisadores e instituição, o que traria problemas de infra-estrutura e funcionamento. “Não há um retorno, uma via de mão-dupla, da produção acadêmica. A maioria das publicações é feita em uma revista interna, acaba não atravessando os muros da instituição”, afirmou. Analisando tais problemas, foi construído um plano de desenvolvimento. “Através do estudo e do planejamento formulamos as medidas para alcançar nossos objetivos”, afirmou. A conclusão de Cavalheiro é que não só o Foresight é aplicável às universidades públicas, como representaria um grande avanço acadêmico e científico. “A diretoria da FMUSP decidiu fazer esse trabalho e acho que nós aqui na Unifesp devemos fazer o mesmo”, concluiu.